segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Será sempre um prazer citar mais uma vez aquela que mais se doou. Serviu com tanta intensidade os seus. Filhos, netos, bisnetos, e a todos que foram colocados, inesperadamente ou não, em seu caminho. Ensinou seus passos aos frutos, que se reinventaram, levando o resultado de suas mãos. As costas curvadas e doloridas, os calos nos pés, os olhos que leram o mundo incansáveis, o coração que sempre abrigou mais um. Ela, que conheceu não só a colheita, mas a semeadura, a luta e a fatura, a paz e a amargura. Ela viveu na luz e alcançou a vida, e gravou as marcas de novas páginas coloridas. E persistiu, e seguiu sempre, conduzindo em si o mundo em secura, revelando o prazer do trabalho, do tempo e do silêncio. Mostrou-nos que cada um pode ser parte do outro, um pedaço da história, a mão que sustenta, levanta, consola, aplaude. Divulgou a graça de pertencer e ser parte do livro, ou ser quem move a pena e constrói as memórias, e faz permanecer o vínculo, a força, o estímulo. É ela, que foi simples, pequena e frágil, mas se multiplicou inimaginavelmente. Nos deu a unidade para compartilharmos sonhos, e a humildade para amar, e a identidade familiar. Ela foi assim, com suas histórias que os anos não desfazem, com essa cumplicidade que permanece apesar do desgaste causado pelo novo, pelo moderno. Em toda família tem-se esses exemplos de dor e amor, esses momentos que merecem sim tornarem-se versos, e se eternizarem. Ela nos é um presente de paz e fidelidade. Porque uma união são escolhas, e essas escolhas é que nos moldam e nos inspiram naquilo que seremos para nossos filhos. Bonita de olhar, de conhecer, de presenciar. Foi ação, é espera, do outro e de si mesmo. Esta admiração nos será sempre certa. Apesar da ausência, ela ainda é a base de nosso encontro de gerações. Vovó Maria, vovó de todos nós. Hoje, ela ainda somos nós, redescobertos.